20 / 04 / 20

Instinto de sobrevivência: como utilizar o risco e a incerteza como gatilhos para a inovação

Por Vanessa Nogueira 

Durante o ciclo da Strider, startup na qual trabalhei como diretora comercial antes da Think Again, fui convidada para dar uma palestra para um grupo de profissionais de uma grande corporação para compartilhar o que era e como era de fato vivenciar a cultura ágil. Me pareceu estranho porque eles de alguma forma me entendiam como especialista em cultura ágil, enquanto, na verdade, esse era um termo novo para mim. 

Fui atrás de entender o que de fato eles gostariam que eu compartilhasse de conhecimento e qual conteúdo seria útil para aquela audiência específica. A empresa que me fez a solicitação percebeu que tinha ficado grande demais e que se não começasse a mudar internamente a forma de pensar dos funcionários iria provavelmente ter perdas em produtividade muito significativas, a ponto de comprometer o negócio. Eles queriam aprender sobre formas de trabalho que fossem mais inovadoras e criativas, e que, em última instância, estimulassem um ambiente mais produtivo. Eles entendiam também que para atrair novos talentos era necessário repensar a forma como posicionavam os seus valores, porque havia uma nova geração que estava sendo atraída por outros benefícios, que iam além da segurança e da estabilidade. 

Foi nesse dia que eu percebi que o mercado tinha criado esse termo Agile Culture ou Cultura Ágil para designar o que na Strider chamávamos de instinto de sobrevivência

Não há nada capaz de estimular mais a inovação, a criatividade e a produtividade do que a necessidade de sobreviver e do que o risco iminente de um negócio não dar certo. 

Acompanhe comigo o raciocínio: 

No contexto de uma startup, quando você tem um produto que tem cliente, começa a parecer que seu negócio é viável, que existe uma oportunidade real de gerar valor para um grupo de pessoas que é grande o suficiente para justificar ter uma empresa. A partir daí você precisa fazer o negócio crescer. 

Nesse momento, você está em um cenário onde: 

  • Sua empresa é jovem, com recursos limitados.
  • Você ainda não está estabelecido como um verdadeiro player no mercado. 
  • Você precisa provar o valor do seu produto para uma massa de pessoas para que o negócio exista e, com muito esforço, cresça. 
  • E você precisa fazer isso antes que os seus concorrentes o façam, porque um mês a menos executando bem sua estratégia de negócio pode significar perder a chance de liderar o mercado. 

O ÚNICO jeito de lidar com esse cenário é sendo ágil. Ser ágil, nesse contexto, significa trabalhar do jeito mais eficiente possível, com o mínimo de recurso possível. E você não faz isso por opção, faz por sobrevivência. 

A inovação, a criatividade e a produtividade nascem, na verdade, no momento em que você é desafiado a pensar qual é o jeito mais eficaz possível de resolver um problema. 

Eu entendo que para uma empresa que tem um modelo de negócio estabelecido, que é há dezenas de anos lucrativa, que possui milhares de pessoas, o instinto de sobrevivência diminui muito, ou, em algum momento, acaba. E que, com ele, vai também a capacidade de inovação, a criatividade e, em alguns casos, uma parte significativa da produtividade. 

Em condições normais de temperatura e pressão, grandes corporações, que estão bem posicionadas no mercado, com negócios lucrativos e promissores, podem se dar ao luxo de pensar a inovação ao longo dos anos, transformando seus processos no tempo que o negócio permite e quebrando menos coisas o quanto for possível. Afinal, o potencial de destruição que uma transformação radical tem em uma grande organização é bem maior do que em uma organização entendida como ágil. 

Mas, se elevamos a pressão e a temperatura de forma inesperada, veremos um cenário onde grandes corporações se encontram em condições similares às organizações ágeis, onde a inovação nada mais é do que uma consequência da necessidade de sobreviver. Nesse cenário, é bastante interessante observar as startups e aprender com elas.  

O maior valor que uma startup possui nos seus primeiros anos é o seu time. E esse time precisa estar ciente de que é a capacidade de entrega e de pensar soluções novas para os problemas que aparecem no dia a dia que serão responsáveis pela continuidade do negócio. É essa visão de que o negócio depende de cada um ali para dar certo que permite que uma startup resolva problemas impossíveis de forma improvável, mais rápido do que a média. E é esse o ponto de partida para utilizar o risco e a incerteza como gatilhos para a inovação. 

Se tem um problema no negócio que parece impossível, junte seu time, coloque o problema na mesa, compartilhe o risco, explique que aquele perrengue é a oportunidade que a empresa tem para entregar uma solução improvável para o mercado e saia da sala com um plano para testar, e com papéis, responsabilidades e resultados esperados bem definidos. Testou e resolveu mais um problema impossível? Pronto, na prática, é isso que a inovação e a cultura ágil te permitirão fazer. 

Aproveite o cenário atual e experimente. E, se precisar de ajuda, estamos aqui. 

Como forma de compartilhar um pouco mais de conhecimento em cultura ágil, nossa próxima edição do Pensa! será com os fundadores da Strider. Fique ligado(a)! Essa edição entrará no ar no dia 27 de abril de 2020.

 

Siga a Think Again também no Instagram e no LinkedIn para mais conteúdos como esse.
Conheça também a Imersão 3CDI e saiba como liderar empresas em transformação.